pensamentos correntes, pensamentos pendentes

quarta-feira, março 22, 2006

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..."These models also address limitations of the one-gene/one-function paradigm, such as the "gene number paradox":how species as different in complexity as worm and humans could contain approximately the same number genes."
Marc Vidal
The Scientist

terça-feira, março 14, 2006

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Parte Décima Primeira
É claro que Andreia não podia suportar mais aquilo, especialmente aquilo que sentia dentro dela, aquela dor que quase a não deixava respirar. Ao ouvir a conversa entre Liliana e João sabia que já não tinha lugar naquela casa e era impossível que João tivesse algum lugar no seu coração. Mas isto não era verdade e ela sabia-o, ela amava João e por isso mesmo só via uma solução, tinha de sair daquela casa o mais depressa possível. Era completamente insuportável continuar naquele espaço físico onde aquele amor tinha ganho forma e que, por algum momento, lhe dera esperança de um dia ser verdadeiramente feliz. No final, tudo se inverteu e, neste momento estava na mais profunda das infelicidades. Estava destroçada. Estava desiludida com João, mas acima de tudo, estava revoltada com ela própria. Como teria ousado, como acharia possível que alguma vez fosse possível que existisse alguma coisa com João, o patrão, o filho do todo-poderoso empresário que dominava a economia nacional?
Que ingénua foi, mas só agora via tudo com claridade.

Foi ainda durante a noite que saiu de casa sem nada dizer a alguém que fosse. Assim foi porque não havia nada para dizer, achou que era o melhor para toda a gente. Evitaria o confronto directo com Liliana e melhor, não teria de olhar para a cara de João, seja qual fosse a cara que tivesse no momento da despedida, revolta, ansiedade, serenidade ou pior, pena... Esperou que todos dormissem, embora nós já saibamos que pelo menos João não dormisse, mas nem assim ouviu a saída de Andreia. Saiu com duas malas cheias com as suas coisas e foi para uma pensão na baixa da cidade e chorou toda a noite pela sua infelicidade. Ninguém sabia o seu paradeiro, também ela queria que ninguém soubesse, queria estar sozinha no mundo, e era isso que lhe estava a acontecer, estava completamente sozinha.

Liliana após saber o que se passara não ficou minimamente perturbada. Ainda disse a João: - Tive pena que assim fosse, gostaria realmente que tivesses sido tu a despedi-la para ela saber que daqui não levava realmente nada. Mas se calhar, até foi melhor assim. Ainda começava aí num berreiro e eu detesto essas coisas. Se calhar foi mesmo melhor assim... - Dizendo ainda entre-dentes – A cabra... Mas Liliana movia-se bem no meio, e aquela saída não lhe chegava, teria de ser feito mais. Assim moveu as suas influências, de modo a que Andreia, pelo menos nos próximos tempos, não arranjasse emprego. Para isso espalhou um boato, que a teve de despedir porque lhe tinha roubado umas peças de prata lá de casa. Claro que não tinha feito queixa à polícia porque não queria alarido em volta do seu nome, mas alarmava, não lhe dêem emprego, porque ontem eu amanhã vocês. Foi deste modo que, quando Andreia conseguiu sair da letargia daquele quarto de pensão mal amanhada e começou de novo em busca de emprego, reparou que todas as portas se fechavam. Ouvindo por vezes incredulamente nas suas costas – A ladra, agora queria vir para aqui roubar... Apercebeu-se do que se estava a passar, as peças tinham sido jogada e ela era o elo mais fraco. Tudo isto estava a tomar proporções gigantescas. Sem amigos, sem emprego, de coração destroçado não conseguiu resistir. A vida não tinha significado, não via nada de bom naquela vida miserável porque valesse lutar. Um dia naquele quarto de pensão rasca, onde muitas vezes se ouviam as prostitutas aos berros no quarto ao lado fingindo orgasmos, foi tomando uma série de comprimidos para dormir. Não os tomou a todos de uma só vez como se costuma ver. Tomou-os como se fossem amendoins. Tinha a televisão ligada e foi tomando, assim muito naturalmente, foi tomando um e mais outro, até que estes começaram a surtir efeito e ela adormeceu. Adormeceu para sempre porque ninguém a veio acudir para lhe fazer uma lavagem ao estômago que impediria ainda aquele desfecho fatal. Deu o último suspiro quando passava um eléctrico em frente da pensão, quando se podia ouvir a bater na parede a cama do quarto ao lado, leito de trabalho da prostituta Lurdes, habitual cliente...
P.S. – Estava para acabar a história neste capítulo mas não consegui. É mais forte que eu. Aquilo que os escritores dizem de a escrita lhe domar a mente por ventura não só história.

segunda-feira, março 06, 2006

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Eu sei que este tema parece um bocado fora de tempo. Acontece que o tempo é algo que, para mim, nos últimos tempos não tem abundado e não poderia deixar passar este tema incólume. Pois bem, falo das caricaturas de Maomé, e tenho somente duas coisas a dizer:
1) Se os muçulmanos se ofendem com as caricaturas, eu fico ofendido com a ofensa deles.
2) Afinal de contas, depois de tudo o que aconteceu e que continua a acontecer, as caricaturas só vieram dar razão a elas próprias.
P.S. - estou a preparar um grande final para a novela, ainda não me esqueci dela...