Parte SétimaO destino está nas acções das pessoas que as tomam. O destino pode ser visto como uma linha de acontecimentos que estão predestinados a acontecer. Às vezes essa linha torna-se tão óbvia que é impossível não ver o que se passará daí em diante. É mais uma vez óbvio que muitas vezes se prefere fingir que não se vê a linha, para assim se continuar até que a linha deixe de ser o horizonte para se tornar o aqui, o inegável aqui.
João e Andreia amavam-se. Não tinham ambos já qualquer dúvida disso. Não tinham dúvidas eles nem Liliana. Os seus olhares por si só eram denunciadores o bastante para que qualquer pessoa com o mínimo de discernimento o pudesse perceber. E Liliana estava bem alerta pelo que andava a congeminar. Na verdade foi Liliana que se apercebeu da linha do destino antes de todos os outros intervenientes. Liliana percebia que João se sentia atraído por ela, mas pouco mais que isso, não a amava, e muito menos a amava como amava Liliana. Mas para Liliana, João também não representava amor, nunca foi disso que tratou a relação deles, de um ponto vista prático. A união deles era perfeita mais num sentido feudal. A bem dizer, Liliana tão pouco se importava com quem João se deitava, ela própria não se poderia dizer inocente da palavra traição. No entanto as aparências exigiam que a ligação deles, da perspectiva social, fosse sólida e sem mácula e João estava demasiado apaixonado, de tal modo que ela receava por ele que fosse ao ponto de cometer uma loucura, por isso começou a tomar as devidas providências, e a primeira foi ir falar com o pai, o pai de João, o todo-poderoso.
Liliana foi muito contida e, acima de tudo, cordial. Mas não poupou o pai de João aos pormenores do que se estava a passar entre ele e Andreia. Mostrou que estava desolada e que não sabia como lidar com o que se estava a passar. Que tinha vindo falar com ele porque este seria a pessoa que, no seu entender, a melhor poderia compreender e, como sendo pai de João, o poderia aconselhar de modo a resolver toda esta situação. No entanto, dissimuladamente mas sem sombra para dúvida, Liliana fez ver ao pai de João o que este e o seu império teria a perder com a possibilidade de divórcio entre eles e de como não estava disposta a abdicar de nada do que tinha direito. Disse isto simulando até uma pequena crise de histeria, para que o pai de João pensasse que ela o estava a dizer devido ao calor do momento, mas disse-o para que ele soubesse até que ponto estava disposta a ir. No final, o pai de João sabia que não podia permitir que o seu filho lhe estragasse o que tanto lhe tinha custado a construir e mesmo ali decidiu que, de qualquer maneira, teria de resolver este problema. Tinha de ter uma conversa séria com o seu filho João, o seu único filho, o herdeiro de todo o seu império.
Continua....