pensamentos correntes, pensamentos pendentes

quarta-feira, dezembro 28, 2005

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Parte Terceira
Andreia assentou no papel de governanta tal qual uma luva feita à medida. As suas funções consistiam em coordenar o cenário doméstico. Era ela que verificava as reservas da cozinha, isto incluía a reserva de vinho de acordo com as instruções recebidas de João. Foi ela a responsável pela contratação da cozinheira e da empregada de casa e era a ela que elas deveriam, em princípio receber as ordens. Era Andreia quem supervisionava o estado da casa, da roupa e da comida para que tudo estivesse bem e sempre pronto para qualquer eventualidade. O curso de relações internacionais adequava-se na perfeição àquele cargo. Nos dias em que havia alguma recepção era ela que estava à porta a receber os convidados, muitas vezes estrangeiros, por isso a sua fluência em cinco línguas lhe era tão preciosa neste momento. Liliana verificava que tinha acertado. Para João, nos primeiros tempos, Andreia passava despercebida qual era a sua azáfama diária, mas a pouco a pouco começou a notar que era devido a ela que as coisas funcionavam e muitas vezes felicitava Liliana por aquela contratação. No entanto tinha um contacto com Andreia um pouco distante. Quem lidava directamente com ela era sempre Liliana. Era Liliana que fazia as combinações com Andreia sempre que havia alguma festa em casa, lhe dizia qual o serviço de louça a utilizar e discutia qual seria a melhor ementa. Tudo corria na perfeição. João na empresa, Liliana nas suas compras e Andreia a liderar a casa. Até que houve um dia, ou melhor, uma noite em que as coisas mudaram. Na altura ninguém se apercebeu mas foi a partir desse momento que uma nova linha do futuro foi traçada. Mas nada de adiantamentos, cada hora no seu lugar, nem a mais nem a menos. Certa noite em que a casa estava completamente adormecida Andreia foi até à sala, sentou-se num dos sofás e começou a ler um livro. Era uma actividade que lhe agradava. Numa casa sempre cheia de correrias e urgências, agradava-lhe sentar-se na sala de estar e ouvir o silêncio da casa enquanto lia. Nunca era por muito tempo, mas o suficiente para se sentir confortada. No entanto, nessa certa noite João teve sede, mas não bebeu da água que estava no jarro do seu quarto, sentiu vontade de desentorpecer as pernas, encontrava-se agitado e por isso sentiu vontade de percorrer o trajecto até à cozinha. Sentiu que isso o iria tranquilizar e buscar o sono perdido. Ao descer foi surpreendido com a luz acesa da sala, penso que alguém houvera esquecido aquela luz ligada e dirigiu-se à mesma para a desligar. Foi então que viu um vulto sentado numa cadeira numa postura de quem se dedicava à leitura, logo depois reconheceu a silhueta de Andreia. - Andreia, é você? – Perguntou João. A voz grossa de João no meio de todo aquele silêncio fez Andreia saltar no sofá.
- Ai que susto Sr. Dr. – Quase gritou Andreia levantando-se imediatamente. - Que imprudente sou – Começou a dizer João – Claro, devia ter-me feito anunciar, com uma tosse ou um toque na porta, mas juro que não sabia que aqui estava. Que susto deve ter apanhado. Mil desculpas. Mas sente-se, escusa de se levantar. - Eu é que peço desculpa, Sr. Dr., não o esperava aqui, pensava que todos já estariam a dormir. - E pensava muito bem, mas apeteceu-me beber água e vim cá baixo. Andreia interrompeu-o: - Mas não tem água no seu quarto, ai aquela Maria, quantas vezes a tenho eu de a avisar. - Calma, tinha lá toda a água do mundo. Foi a mim que me apeteceu vir cá baixo, dar uso às pernas para ver se chamava o sono, que hoje parece que anda arredado, mas sente-se que eu faço-lhe um pouco de companhia...
Continua...
P.S.- Esta é mais uma fotografia do auto deste blog. Desta feita cheia de pós-produção. Devo dizer no entanto que esta fotografia representa para mim um novo caminho, eu que era um defensor da fotografia pura, daquela que sai directamente do negativo. Mas o ambiente criado nesta fotografia reflecte exactamente o ambiente d história. E se as palavras não chegam, pois é bom que se tenha uma imagem, que pelo menos, vale mil palavras.

terça-feira, dezembro 27, 2005

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Parte Segunda
Para continuar esta história hoje escolhi Travis. Quando coloquei o CD a tocar lembrei-me: “Há quanto tempo já não ouvia isto”. Por isso deixei estar. É com Travis como pano de fundo e o cheio a café no ar que continuo esta saga. Liliana, cujo nome ainda não tinha sido aqui revelado, após o casamento começou desde logo a fazer uma série de exigências, como outra coisa nem fosse de esperar. Além de outras coisas, umas das exigências passava pela contratação de uma governanta para a casa. Era impensável que ela perdesse tempo a elaborar listas de compras para a semana ou em busca de uma nova empregada de limpeza, ou pior, nas ementas para o jantar. Não, a cabeça dela não era para ser gasta nesse tipo de coisas. E depois, se tinha casado com o João era mesmo para não ter esse tipo de preocupações. É claro que Liliana não iria trabalhar, mas haveria uma série de coisas que, certamente, lhe ocupariam o tempo. As quase eternas idas ao cabeleireiro, manicure, as compras para se manter a par com a moda tomavam-lhe todo o tempo. Assim, a contratação de uma governante era simplesmente imprescindível. - João, temos mesmo de contratar uma governante. - Mas Liliana, onde vou eu agora arranjar uma governanta? – Respondia-lhe o João – Onde? Será que não podias tratar tu desse assunto. Justamente agora que a empresa está em reestruturação não tenho cabeça para essas coisas. Faz lá isso... Desta forma, ficou acordado que a Liliana ficaria encarregue da contratação da governanta da casa. Passou a primeira semana e Liliana e nenhuma das pessoas indicadas pelas agências de emprego agradavam a Liliana. Ou porque era velhas demais, ou porque eram gordas. Chegou mesmo a recusar uma porque, apesar de demonstrar estar bem capaz da tarefa que lhe era proposta, tinha um sinal na cara que simplesmente, repugnava de morte a Liliana. Após doze entrevistas, Liliana achava-se tal e qual como no princípio, ou seja, sem ninguém para lhe governar a casa. Começava já a desesperar... Foi então que tudo se precipitou, numa sucessão de acontecimentos que decorreram que forma quase natural, como se uma linha os unisse de forma invisível. Ia Liliana um desses dias por uma avenida da cidade completamente ofuscada pelo brilho das montras quando se dá conta que está lado a lado com uma das suas melhores amigas de infância. Estavam as duas a ver exactamente a mesma montra não se dando conta uma da outra, mas o certo é que foi Liliana que reparou na Andreia em primeiro lugar. - Não posso crer, és mesmo tu Andreia? A princípio Andreia não estava a perceber como é que uma pessoa com o esplendor de Liliana pudesse saber o nome dela, mas no momento seguinte apercebeu-se com quem é que estava a falar. - És mesmo tu Liliana, como é possível? E estava feito, após tanto tempo tinham-se encontrado. É claro que foram para o café mais perto para poderem pôr-se mutuamente a par das voltas que as suas vidas tinham dado desde o último momento em que tinham estado juntas. A verdade é que E estava feito, após tanto tempo tinham-se encontrado. É claro que foram para o café mais perto para poderem pôr-se mutuamente a par das voltas que as suas vidas tinham dado desde o último momento em que tinham estado juntas. A verdade é que os caminhos de ambas tinham seguido por vias diametralmente opostas. Enquanto Liliana tinha tinha uma vida desafogada, a vida de Andreia tinha tido umas curvas mais apertadas. Também tinha tirado um curso, o de relações internacionais, mas não conseguia arranjar emprego. Por mais que tentasse nos últimos seis meses não lhe aparecia nada. Desta forma, tinha arranjado um emprego precário como vendedora de balcão numa dessas lojas de marca num desses novos grandes centros comerciais. Para Liliana, tudo começava a ficar claro. Que pessoa melhor para assumir o papel de governanta da sua casa que Andreia? Imediatamente lhe fez a proposta. Andreia mostrou-se reticente, não queria ser um fardo para a sua amiga. Liliana apertou o cerco, disse-lhe quanto estava disposta a pagar-lhe, de modo a mostrar, sem sombra de dúvidas, que não era nenhum favor que lhe estava a fazer. Perante aquilo Andreia estremeceu, mas por fim aceitou. A partir desse momento Andreia tornou-se governanta da casa de Liliana e João...
Continua…
P.S. - A fotografia é da autoria do Barão d'Holbster

quarta-feira, dezembro 21, 2005

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terça-feira, dezembro 20, 2005

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quarta-feira, dezembro 14, 2005

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Lamento mas ainda não é a continuação da história. Devido ao aparecimento de novos factos tive de re-formular um pouco a história. Mas já está em construção.
O post de hoje é relativo à palavra "breca" que tanta alegria me dá, como poderam constatar no post anterior. Dito isto, fui ver o que realmente queria dizer esta palavra de sonoridade tão agradável, vejam só o que saiu:
Breca - s. f., contracção muscular dolorosa e involuntária; cãibra.
No mínimo, curioso...
Já agora aproveito e coloco mais uma das minha fotografias...

terça-feira, dezembro 13, 2005

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Parte primeira
Andei às voltas, não sabia se devia ou não. Seria uma grande responsabilidade perante mim mesmo. Era uma obra grande pela frente. Teria de articular bem os argumentos, dobrar a história mas fazê-la parecer original. Em suma, não seria fácil. Até que decidi; Com uma breca, vamos lá a isso (adora esta expressão da breca, é o que diz alguém muito bem educado quando está numa situação limite. Ora aqui vai mais uma vez: Com uma grande breca...) É claro que tinha de escolher a banda sonora para me acompanhar nesta caminhada solitária. Corri os olhos pela minha discoteca privada, estava duvidoso, mas quando o vi dissiparam-se quaisquer hesitações. Tchaikovsky, pois claro. Lá mais para a frente irão perceber a razão, depois dir-me-ão se não foi uma excelente escolha. Ora com outra grande breca, aqui vai disto... Ele era o típico filhinho do pai. Sempre teve tudo, tinha tudo. O pai tinha erguido a empresa do nada e transformou-a naquilo que é hoje, um império. Estava no centro da economia nacional. Podia-se dizer até que, de certa forma, o presidente daquela empresa governava o país, qual era a sua influência e importância. João, o seu filho nascera e sempre vivera na abundância. Estava habituado ao poder. Nem concebia a vida sem ele, o poder. Tira-a o seu curso de economia e fez uma pós-graduação em gestão. Já tinha um lugar reservado no conselho de administração da empresa. Já há muito tempo que tudo estava planeado. Era tudo tão claro como o céu azul num dia de verão. Estava destinado a grandes feitos, mas nem ele sabia a que feitos... Como seria de esperar, nem noutra coisa se poderia pensar, João casou com uma menina da sua classe. Igualmente nascida em berço de ouro, licenciada em direito, vestia sempre as últimas colecções da Massimo Duty. Era bonita, de um bonito estilizado que salta à vista, por transbordar um certo glamour só acessível a alguns. Por vezes tinha birras que só curava com uma visita à Luis Vuiton, onde já era conhecida e comprava aquelas botas só para ter uma razão para compra um vestido a condizer. Não era para todos, só para alguém, que pudesse suportar as suas “birras” poderia desposá-la, só o João o poderia fazer e assim mesmo o fez. Casaram-se conforme a tradição estava ainda o João a tirar a pós-graduação, ela já tinha completado o curso. Era dois anos mais nova que ele. Ia linda com aquele vestido branco. Ele de fraque no altar esperava-a contente por ter consciência do dever cumprido. Apesar de todas as manias ela era boa na cama, mas não ia além do convencional. Mas tudo estava bem, João pensava que a amava porque pensava que o amor fosse aquilo. Ela casou porque pensava que só poderia amar alguém assim como o João, não o João, mas alguém como ele. E mais parecido com o João só o próprio João. E assim foi, estavam casados.
Continua...

sexta-feira, dezembro 09, 2005

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É claro que podia utilizar a metáfora do tempo. É claro que podia dizer que o tempo não pára, que o último natal pareceu ontem e o próximo já está à porta, que o tempo não dá trégua e por aí fora. Mil e uma ladainhas sei
eu para falar acerca do tempo e das suas consequências. Mas não vou por esse caminho. Só queria arranjar um pretexto para publicar no blog
. Peguei nesta fotografia, manipulei-a um pouco (sim a tez esverdeada não é natural, mas faz parecer que a fotografia esteve uns tempos no fundo do mar...) e cá está. Afinal não é o tempo tão importante para todos nós...? (afinal sempre acabei por falar no tempo, peço desculpa, foi mais forte que eu...)

segunda-feira, dezembro 05, 2005

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Esta fotografia é, para mim, já um clássico. Basicamente são centenas de faces humanas feitas em pedaços de metal. Uns maiores que outros. Umas notoriamente de pessoas adultas outras de crianças. É claro que as possibilidades de interpretação são imensas, mas vou dar uma pista. A fotografia foi tirada no museu judeu em Berlim...