Se estamos num tempo de politiquices, falemos então de política.
No semáforo:
Andava eu nas minhas voltas habituais quando parei num semáforo vermelho. Nada demais não fosse um autocolante que estava colado no dito semáforo que rezava assim: “Vote em branco”. Não era uma coisa feita à mão, era mesmo um autocolante produzido para aquele efeito, fazer publicidade ao voto em branco. Quando olhei para o semáforo do outro lado verifiquei que este também estava catalogado com um autocolante semelhante. Verifiquei então que uma outra campanha eleitora estava a decorrer quase sem ninguém dar conta. A campanha pelo voto em branco. Afinal o Saramago lá conseguiu abanar algumas consciências (para mais informações ler o seu último livro “Ensaio sobre o lucidez” que tão bem se enquadra nesta época política).
Após ver aquele autocolante pensei numa discussão que tinha tido há pouco tempo acerca do voto em branco quando alguém me dizia que votar em branco era somente concordar com os resultados eleitorais que saíssem das eleições. Ao ouvir isto tomei conta o quão errada anda a percepção das pessoas acerca do voto em branco, pelo que tive de esclarecer: “Quem se abstém, quem deixa de votar para aproveitar o dia para ir à praia, esses sim estão-se a marimbar para os resultados eleitorais e para a relevância de viverem num país onde podem escolher através do acto eleitoral aqueles que os vão governar. O voto em branco tem outra finalidade, outro objectivo. O voto em branco diz que nenhum daqueles que se estão a candidatar para serem eleitos satisfaz, nenhum merece a confiança para lhes ser dado o rumo do país”. Essa é a mensagem do voto em branco.
2) Banqueiro Anarquista -livro de Fernando Pessoa que aconselho vivamente:
O anarquismo é outro conceito que muitas vezes é completamente deturpado pelas mentes menos despertas. O anarquismo não é a adopção da falta de ordem como sistema político, muito pelo contrário, é a responsabilização individual pelos seu direitos e (principalmente) deveres sociais. É a fuga da armadura das convenções sociais que nos tiram a liberdade pela liberdade de escolha e pelo assumir da respectiva responsabilidade. Mas para quê gastar mais palavras. Vou recorrer às palavras do próprio poeta para descrever de forma mais concisa o que é, afinal, uma anarquista:
«O que é um anarquista? É um revoltado contra a injustiça de nascermos desiguais socialmente – no fundo é só isto. E daí resulta, como é de ver, a revolta contra as convenções sociais que tornam essa desigualdade possível» Se nascemos iguais, porque não poderemos ser todos iguais socialmente?
Para breve a conclusão da série “Na cauda da realidade, sem medo...”