
Andreia assentou no papel de governanta tal qual uma luva feita à medida. As suas funções consistiam em coordenar o cenário doméstico. Era ela que verificava as reservas da cozinha, isto incluía a reserva de vinho de acordo com as instruções recebidas de João. Foi ela a responsável pela contratação da cozinheira e da empregada de casa e era a ela que elas deveriam, em princípio receber as ordens. Era Andreia quem supervisionava o estado da casa, da roupa e da comida para que tudo estivesse bem e sempre pronto para qualquer eventualidade. O curso de relações internacionais adequava-se na perfeição àquele cargo. Nos dias em que havia alguma recepção era ela que estava à porta a receber os convidados, muitas vezes estrangeiros, por isso a sua fluência em cinco línguas lhe era tão preciosa neste momento. Liliana verificava que tinha acertado. Para João, nos primeiros tempos, Andreia passava despercebida qual era a sua azáfama diária, mas a pouco a pouco começou a notar que era devido a ela que as coisas funcionavam e muitas vezes felicitava Liliana por aquela contratação. No entanto tinha um contacto com Andreia um pouco distante. Quem lidava directamente com ela era sempre Liliana. Era Liliana que fazia as combinações com Andreia sempre que havia alguma festa em casa, lhe dizia qual o serviço de louça a utilizar e discutia qual seria a melhor ementa. Tudo corria na perfeição. João na empresa, Liliana nas suas compras e Andreia a liderar a casa. Até que houve um dia, ou melhor, uma noite em que as coisas mudaram. Na altura ninguém se apercebeu mas foi a partir desse momento que uma nova linha do futuro foi traçada. Mas nada de adiantamentos, cada hora no seu lugar, nem a mais nem a menos. Certa noite em que a casa estava completamente adormecida Andreia foi até à sala, sentou-se num dos sofás e começou a ler um livro. Era uma actividade que lhe agradava. Numa casa sempre cheia de correrias e urgências, agradava-lhe sentar-se na sala de estar e ouvir o silêncio da casa enquanto lia. Nunca era por muito tempo, mas o suficiente para se sentir confortada. No entanto, nessa certa noite João teve sede, mas não bebeu da água que estava no jarro do seu quarto, sentiu vontade de desentorpecer as pernas, encontrava-se agitado e por isso sentiu vontade de percorrer o trajecto até à cozinha. Sentiu que isso o iria tranquilizar e buscar o sono perdido. Ao descer foi surpreendido com a luz acesa da sala, penso que alguém houvera esquecido aquela luz ligada e dirigiu-se à mesma para a desligar. Foi então que viu um vulto sentado numa cadeira numa postura de quem se dedicava à leitura, logo depois reconheceu a silhueta de Andreia. - Andreia, é você? – Perguntou João. A voz grossa de João no meio de todo aquele silêncio fez Andreia saltar no sofá.
- Ai que susto Sr. Dr. – Quase gritou Andreia levantando-se imediatamente. - Que imprudente sou – Começou a dizer João – Claro, devia ter-me feito anunciar, com uma tosse ou um toque na porta, mas juro que não sabia que aqui estava. Que susto deve ter apanhado. Mil desculpas. Mas sente-se, escusa de se levantar. - Eu é que peço desculpa, Sr. Dr., não o esperava aqui, pensava que todos já estariam a dormir. - E pensava muito bem, mas apeteceu-me beber água e vim cá baixo. Andreia interrompeu-o: - Mas não tem água no seu quarto, ai aquela Maria, quantas vezes a tenho eu de a avisar. - Calma, tinha lá toda a água do mundo. Foi a mim que me apeteceu vir cá baixo, dar uso às pernas para ver se chamava o sono, que hoje parece que anda arredado, mas sente-se que eu faço-lhe um pouco de companhia...
- Ai que susto Sr. Dr. – Quase gritou Andreia levantando-se imediatamente. - Que imprudente sou – Começou a dizer João – Claro, devia ter-me feito anunciar, com uma tosse ou um toque na porta, mas juro que não sabia que aqui estava. Que susto deve ter apanhado. Mil desculpas. Mas sente-se, escusa de se levantar. - Eu é que peço desculpa, Sr. Dr., não o esperava aqui, pensava que todos já estariam a dormir. - E pensava muito bem, mas apeteceu-me beber água e vim cá baixo. Andreia interrompeu-o: - Mas não tem água no seu quarto, ai aquela Maria, quantas vezes a tenho eu de a avisar. - Calma, tinha lá toda a água do mundo. Foi a mim que me apeteceu vir cá baixo, dar uso às pernas para ver se chamava o sono, que hoje parece que anda arredado, mas sente-se que eu faço-lhe um pouco de companhia...
Continua...
P.S.- Esta é mais uma fotografia do auto deste blog. Desta feita cheia de pós-produção. Devo dizer no entanto que esta fotografia representa para mim um novo caminho, eu que era um defensor da fotografia pura, daquela que sai directamente do negativo. Mas o ambiente criado nesta fotografia reflecte exactamente o ambiente d história. E se as palavras não chegam, pois é bom que se tenha uma imagem, que pelo menos, vale mil palavras.