pensamentos correntes, pensamentos pendentes

quinta-feira, dezembro 23, 2004

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NA CAUDA DA REALIDADE...

SEM MEDO...

Capítulo Terceiro

Tomo I

Da inexistência da metafísica no amor

ou ainda...

Preâmbulo para a explicação termodinâmica para o amor, que se avizinha

Falar de amor é muito arriscado. Tal como os temas tratados anteriormente, o amor constitui algo que é muito caro às pessoas. Não é fácil discutir o tema amor sem nos deixarmos contaminar de alguma forma pela crença de que existe algo metafísico no amor, algo que é maior que nós e que nos guia pela escuridão em que nos encontramos quase todos e quase na totalidade do tempo. Assim, para muitos, o amor surge como uma luz ao fundo de um túnel escuro e pedregoso. Este tema é tão forte que as religiões não hesitam em tirar partido deste poder. Muitas vezes podemos encontrar referências que conjugam o poder de deus com o seu poder de amar. O exemplo mais evidente foi a nova aliança trazida por Jesus (e daí o poder de uma nova religião) de que deus é aquele que ama infinitamente todos, sem excepção. Quem consegue resistir a ser amado?

Para falar de amor tinha de achar uma música apaixonada, assim escolhi “When electronic meets Tango”. O Tango sempre foi música de paixão, a batida fornecia a cadência para a escrita. Aconselho vivamente a todos...

Para falar de amor temos de olhar para a sua origem, para o que o fundamenta. O que nos faz amar? A partir de que momento estamos a amar? Qual é o caminho que nos leva ao amor? O que é amor?

À primeira vista o amor é uma ligação muito forte que nos liga a alguém de uma forma muito intensa, e é tão forte que por vezes poderá fazer uma pessoa abdicar de tudo por esse sentimento por vezes até a vida. Estamos, portanto, a falar do sentimento mais forte de todos. Aliás, acredito que para algumas pessoas este meu atrevimento de definir o amor de uma perspectiva meramente realista seria caso para uma pena pesada, ou mesmo a morte. Mas prossigamos sem medo, a realidade é intocável. Existe por si só, não precisa da consciência do Homem. No entanto, o Homem continua a insistir num homocentrismo de forma a elevar-se sobre o resto da realidade de uma forma quase desesperada. Será tão difícil abrir verdadeiramente os olhos e verificar que somos somente mais uma parte de uma existência (a consciência é que nos trama...). Mas não é este tema que está em discussão. Prossiga-se então.

A forma argumentativa que vou utilizar vai ser em muito parecida com aquela que utilizei no caso da moral: a lei do retorno (quer queiramos ou não, ele existe...). Por mais estranho que pareça, os sistemas morais construídos pelo o Homem e o facto de amar tocam-se de maneira sub-reptícia, mas o que não é de admirar, são sistemas cuja a origem é comum, o horror que o Homem tem ao vazio e a sua tendência para tudo compreender, nem que para isso tenha de se socorrer de esquemas metafísicos, que não explicando concretamente, dão uma razão (e quando temos uma razão ficamos logo todos satisfeitos, a razão dá-nos uma desculpa...)

O primeiro amor que se sente é por aqueles que nos criam, sejam eles os progenitores verdadeiros ou adoptivos. Estas constatação começa já a abrir caminho para a explicação final, amamos aqueles que são responsáveis pela nossa existência e que nos dão uma base de apoio para a sua continuidade. Chamarei a este tipo de amor, amor fraterno, que se poderá estender a todos os membros da família, irmãos, avós, tios, primos, etc. Acho que será oportuno referir neste ponto uma vantagem evolutiva para este tipo de amor, se nós tivermos uma relação estável com outros seres que transportam o mesmo ou parte do nosso material genético, a probabilidade desse material genético se propagar será maior (teoria do gene egoísta, para melhor compreensão aconselho de viva voz o livro cujo o autor é Richard Dawkins).

Em oposição ao amor fraternos, tem-se o amor não-fraterno, que é definido por aquele amor que se sente pelas pessoas com as quais não partilhamos laços de sangue. É este tipo de amor que trás mais complicações em ser explicado e compreendido. O amor surge a partir de um estado de paixão. Estar apaixonado, basicamente, é estar extremamente curioso. Quando estamos apaixonados, quer seja por uma pessoa, por um objecto ou por um tema, estamos constantemente a pensar no objecto da paixão, queremos sempre saber mais sobre esse objecto, no caso de se tratar de uma pessoa, obviamente, queremos sempre estar com ela, conhecê-la (é muito devido a isto que a noção de amor à primeira vista é puramente fictícia, apesar da lei das probabilidades a prever, mas não se trata de amor à primeira vista, trata-se somente de uma coincidência).

Então quando se começa a amar. Amar não se trata de algo unidireccional vistas as coisas de uma maneira verdadeira. Só se ama quando este sentimento é retribuído. Na realidade, quando se tratam de relações não-fraternas só se ama quando se é amado, é um estado de equilíbrio. Só se ama verdadeiramente quando existe retorno, quando dou mas também recebo. Quando ou poderá ser de forma desinteressada (quase sempre o é) e quando recebo a mesma coisa, no entanto esta troca tem de acontecer e por isso mesmo que o amor é um acto egoísta visto no bom sentido, ou seja, amamos porque nos sentimos bem, desejamos amar porque sabemos que é bom, basicamente saímos sempre a ganhar, tanto uma parte como outra, pois ambos dão e recebem constantemente.

Agora, vai ser engraçado ver este tipo de relações do ponto de vista físico-químico, mais concretamente, de uma perspectiva termodinâmica, que é a ciência que explica a razão das coisas acontecerem com base na transferência de energia. Mas isso será nos próximos posts.

Para já desejo a todos os frequentadores deste blog um 2005 cheio de sucesso (no natal não falo, não acredito no natal...)


quinta-feira, dezembro 16, 2004

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Se querem ver um verdadeiro filme de natal vão ver este...


Simplesmente fantástico...

quinta-feira, dezembro 09, 2004

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Devido a minha resposta à Diva ser longa tive de a tornar num post...

Conheço Paul Auster, mas não os acasos deste. Escreveu um livro fantástico chamado Mr. Vertigo, que agora não consigo achar em lado nenhum.
Quanto ao acaso em si, sabes que matematicamente é perfeitamente possivel estabelecer relações entre tudo, por exemplo entre o comprimento da tua porta de entrada e a distância da tua casa à lua, e por aí fora.
É engraçado pensar quantas forma as vezes que acontecimentos supostamente aleatórios interferiram com a nossa vida, dá-nos a informação de quanto nós domamos realmente a nossa vida. Penso que quanto mais acontecimentos aleatórios interferirem na vida menos controlo temos sobre ela.
Mas deixa-me contar uma história que aconteceu há muito, muito tempo atrás e que me fez pensar nesta coisa do acaso. Uma vez vinha com umas colegas minhas do liceu pelo caminho habitual até que uma delas disse: "Hoje não vamos pelo caminho habitual, vamos antes por este que é por onde o Pedro (nome fictício pois não me lembro já de quem se tratava) costuma passar e assim teremos um encontro ao acaso com ele.
Esta brincadeira perfeitamente infantil fez-me reflectir quantas coisas que pensamos serem fruto do acaso serão mesmo casuais...

P.S.. O "para o bem e para o mal" fez-me lembrar nietzsche, conheces...?
P.S2 - Gosto e identifico-me muito com o teu blog, obrigado...

terça-feira, dezembro 07, 2004

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Desejo logo, existo.
Nós somos definidos pelas nossas vontades. Só conseguimos ser no máximo, aquilo que queremos ser.
Tão simples...

segunda-feira, dezembro 06, 2004

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O univiverso tende para o gelo,
por conseguinte, todos os fogos acabarão por se extinguir...

Prelúdio termodinâmico para o que se avizinha...

quinta-feira, dezembro 02, 2004

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NA CAUDA DA REALIDADE...

SEM MEDO...

Capítulo Segundo

Da relatividade de deus

ou ainda...

A alienação na fuga em frente

Falar e pensar em deus e da razão para que deus exista é um exercício quase diário para mim. Dizem que o cérebro é um músculo, e como tal é necessário exercitá-lo. A metafísica, deus e outros conceitos mais ou menos abstractos são matéria prima que se adaptam bem a este tipo de exercício.

Para me acompanhar nesta reflexão pus a girar os THIEVERY CORPORATION. Falar de deus e religião muitas vezes leva a discussões mais acesas acabando muitas vezes em tomada de posições radicais e extremadas que a nenhum lado nos levam. Assim uma música calma poderá ser um bom protector para estas situações.

Podemos encarar deus de duas formas completamente distintas.

Uma das formas é a via da fé (pura e cega). Esta forma não vale a pena ser discutida pois ultrapassa os limites da razão. Não se pode discutir racionalmente um tema vazio da própria razão, conduz invariavelmente a um paradoxo. No entanto quando se dá uma discussão deste género com alguém crente, muito facilmente se cai nesta falácia. Não é preciso muito para que chegue a um ponto em que se estão a utilizar argumentos de fé para contrapor argumentos de razão. É a partir daqui que as posições se começam a extremar. É necessário compreender que a discussão quando chega a este ponto está situada em dois níveis diferentes que não se tocam. Desta forma, assumo que a via da fé não é passível de discussão.

É claro, que em oposição à via da fé surge a via da razão.

Pela via da razão entende-se a razão da necessidade da existência de deus para o homem. Começando logo pelo plano ético. Uma norma terá mais valor e será mais valorizada se tiver origem divina. A noção de existência de deus dá-nos a resposta para a pergunta: O que leva o Homem a fazer o bem? Deus surge assim como um farol para o qual nos devemos dirigir.

No entanto, utilizando somente argumentos lógicos, é quase básico provar a inexistência de deus.

Deixando de lado argumentos, igualmente válidos, mas um pouco básicos vamos directamente ao ponto fulcral da questão.

Atenção que não estou a falar de um determinado deus (católico, judeu, islâmico ou outro), falo sim da noção geral de deus.

Vamos começar pelos atributos básicos que são atribuídos a deus: Perfeição, omnipotência e omnipresença. A noção de deus caí logo se tivermos em conta o primeiro atributo que descrevi: a perfeição.

Acho que é óbvio pensar que a perfeição é um conceito completamente relativo. Algo ou alguém só poderá ser considerado perfeito quando enquadrado num certo contexto ou numa determinada situação. O deus católico será perfeito para os católicos com os atributos que lhe puseram os católicos, mas decerto que já não o será para os hindus e vice-versa. Assim é fácil constatar que a perfeição absoluta não existe. Na da é absolutamente perfeito, o que quer dizer que nada é universalmente perfeito, nada é perfeito num determinado momento para todas as pessoas. A perfeição não existe, é somente um conceito. Assim, quase sem nos darmos conta descobrimos que deus não existe, que a sua existência cai logo pela base. Se deus é classificado como perfeito e a perfeição não existe, estamos então perante um paradoxo, uma afirmação que só se tornará verdadeira quando a mudar-mos para, se deus é perfeito então deus não existe. Isto roça quase o pensamento matemático, mas é que ajuda muito quando se fala em termos lógicos.

Assim ficamos com uma questão em aberto, então o que será de nós sem deus? Resta-nos libertar da alienação divina e acreditarmos no Homem e lutar por conseguir que o Homem seja melhor, sempre conscientes das suas limitações e ambições. Ser humano não é fácil (a consciência de que existimos como também o Outro trama-nos completamente), mas não podemos fazer uma fuga para a frente com uma desculpa divina que nos permite ter a sensação que poderemos ter a resposta para tudo, mesmo que ela se encontre num conceito que nos é completamente vedado (deus). Em vez de correr, de fugir, a resposta é parar e procurar o verdadeiro caminho, sem medo. Somos humanos, somos limitados, mas é isto que somos, nada mais... (esta porra do existencialismo dá-me cabo da cabeça...)