pensamentos correntes, pensamentos pendentes

quinta-feira, setembro 30, 2004

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Há dois posts atrás falei sobre a impossibilidade de se viver em sociedade sem se assumir uma postura hipócrita /cínica. Algo sobre o qual quase nada se pode acrescentar ao senso comum a não ser o facto ficar provado em termos lógicos.
No entanto para o fazer tive de despender de uma argumentação longa e algo fastidiosa, característica de um ser normal.
A genialidade, como referi também atrás, só a alguns está acessível (por vezes penso se a genialidade nasce connosco ou se a poderemos alcançar através da libertação das amarras mundanas).
De seguida vou uma vez mais transcrever uma parábola do meu adorado K. Gibran. Acontece que ele consegue transmitir a mesma mensagem que eu naquele logo e fastidioso post, de um modo muito mais eficiente e simples.
Então aqui vai:

«As Sonâmbulas
Na minha cidade havia duas mulheres, mãe e filha, que eram sonâmbulas.
Certa noite, quando o silêncio era maior que a escuridão, saíram sonâmbulas encontrando-se no meio de um jardim.
A mãe disse: - Até que enfim que posso dizer-te que deste cabo da minha juventude e que construíste a tua vida sobre as ruínas da minha. Desejo a tua morte.

A filha sem responder disse: - Mulher egoísta e velha que está sempre entre a minha liberdade e o meu desejo. Pretendes que a minha vida seja a nulidade que é a tua. Como gostaria de te ver morta.

Nesse momento canta um galo e as duas acordaram
A Mãe: És tu, meu tesouro?
A Filha: Sim, minha querida mãe»

quarta-feira, setembro 29, 2004

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Bodies

Cast the pearls aside, of a simple life of need
Come into my life forever
The crumble cities stand as known
Of the sights you have been shown
Of the hurt you call your own
Love is suicide

The empty bodies stand at rest
Causalities of their own flesh
Afflicted by their dispossession
But no bodies ever knew
Nobodys
No bodies felt like you
Nobodys
Love is suicide

Now we drive the night, to the ironies of peace
You can’t help deny forever
The tragedies reside in you
The secret sights hide in you
The lonely nights divide you in two
All my blisters now revealed
In the darkness of my dreams
In the spaces in between us
But no bodies ever knew
Nobodys
No bodies felt like you
Nobodys
Love is suicide

Billy Corgan
Performed by Smashing Pumpkins

As saudades que eu já tinha disto...

terça-feira, setembro 28, 2004

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A insociabilidade social de se viver em sociedade

Há uns tempos conheci um tipo muito sábio, sábio no sentido livresco do termo. Sabia muito, era formado em Filosofia e estava a tirar Psicologia e tinha pertencido a uma unidade de tropas especiais. Achei aquela associação interessante, tal como acho neste momento estar a preparar-me para falar sobre moral social (sim, uma vez mais, se tenho uma amante chama-se moral...) e estar a ouvir The Clash. Se calhar devia-me levantar e trocar os The Clash por um Bach, muito mais matemático e propício a altos pensamentos. Mas não vou fazer isso, acho que é destas misturas que por vezes saem ideias interessantes. Mas voltando atrás, essa tal rapaz tinha sempre umas saídas muito sábias, no entanto sempre que expunha uma ideia (que eu achava espantosa) ele terminava sempre por dizer que tinha sido uma citação. Citava tão bem Sócrates ou Platão, como os mais modernos Hegel, Nietzsche, ou mesmo Heidegger ou Satre. Ao princípio aquilo era de admirar, mas com o tempo começou a fartar. Até que eu um dia lhe perguntei se ele não era capaz de expor alguma ideia sem citar ninguém, ao que ele me respondeu: “Meu caro, já está tudo pensado, por isso é melhor não plagiar, mas sim citar...”
Nós temos a sensação de que facilmente podemos ser originais. No entanto, se continuarmos a estudar e a procurar respostas, facilmente nos deparamos que o nosso pensamento original já tinha sido feito por outrem. Isto para dizer que formular um pensamento verdadeiramente original será difícil, no entanto ao ter um pensamento anteriormente descrito pelo menos devemos ter a sensação confortante de que, provavelmente, estamos no bom caminho. E não acredito no conhecimento pleno, os humanos são demasiado limitados para isso. E além do mais, acho que nenhuma desculpa é boa o suficiente para parar de reflectir, no entanto compreendo perfeitamente quem escolha essa via.
Provavelmente o que exporei hoje não será de todo original, mas tenho o prazer de lá ter chegado (se é que cheguei a qualquer sítio).

Todas as pessoas saudáveis possuem um sistema de valores. Por exemplo, matar não é bom (embora este conceito varie de situação para situação, há que aceite a pena de morte para os praticante de crimes horrendos). Este sistema de valores que todos possuímos é comum a todos, pelo menos a priori. Depois este sistema de valores pode ser completado ou moldado pela religião, educação ou mesmo condição social.
Outro facto comum a todas as pessoas é a vivência em sociedade. Todas as sociedades também são moldadas por uma série de normas; são as leis. Mas mais que estas leis rígidas, a vivência em sociedade obriga à interacção entre as pessoas. Obriga-as a por vezes a assumiram comportamentos com os quais não concordam, ou por outro lado, a uma inactividade perante situações que discordam. Esta discordância pode ser definida por um contra-senso entre o que se passa (a atitude do Outro) e o seu próprio sistema moral, aquilo que o Eu acharia correcto. No entanto a vivência em sociedade obriga a isto mesmo, por vezes tem de se “suportar” algumas contradições com o nosso sistema moral. A esta contradição, Kant chamou em tempos a isto qualquer coisa como “a insociabilidade social”.
Ora se é impossível de viver em sociedade sem que, por algumas vezes, tenhamos de renegar os nossos princípio morais, então a única maneira de viver em sociedade será de maneira hipócrita e/ou cínica. Quanto a isto não há dúvida possível. No entanto o que fazer com aqueles que “pensam” viver em conformidade consigo próprios, ou aqueles que afirmam que tal vivência hipócrita/cínica não existe? Poderão eles estar cegos e convencidos que são donos de toda a moral (facto impossível, pois como já demonstrei em posts anteriores, não existe uma moral absoluta e por isso ninguém poderá possuir a moral no sentido pleno) ou então é uma tentativa de subjugar o Outro. Convencendo o outro que a minha moral é a correcta estou a formar com ele um grupo, que crescendo, poderá que formar como que um lobbie social com benefícios para aqueles que o seguem. E isto é tão claro se por momentos levantarmos a cabeça do plano teórico e olharmos a sociedade. Por exemplo, a noção moral de justiça social é transversal a todas as pessoas, mas como é óbvio, trabalhador e patrão partilham de perspectivas diferentes, pois estes pertencem a lobbies morais diferentes.
Em resumo, a hipocrisia não será uma falta de alguns humanos sociais, mal algo comum a todos. Além do mais, só com uma postura hipócrita e cínica se poderá viver em sociedade sem que se esteja permanentemente em conflito. Aliás as próprias negociações sociais (ou relações humanas) revelam isto mesmo, eu nego-me a mim próprio, nego as minhas ideias morais para que tenha uma estabilidade social, para que possa viver em sociedade.

segunda-feira, setembro 27, 2004

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Khalil Gibran. Nasceu em 1883 no Líbano. Estudou nos EUA. Mais tarde mudou-se para Paris para estudar pintura. Em 1903 escreve Espíritos Rebeldes que será queimado inquisitorialmente na praça pública de Beirute e Khalil excomungado pela Igreja Católica a que pertencia.
Escreveu O Louco em 1910 (para mim o seu melhor livro) e mais tarde O Profeta (considerada a sua obra prima). Morreu a 10 de Abril de 1931 em Nova Iorque.

Hoje transcrevo uma das minhas parábolas preferidas deste autor:

«Certo dia um cão sábio passou por um grupo de gatos e vendo que os gatos pareciam preocupados falando entre si. Sem que dessem pela sua presença decidiu parar e escutar o que diziam. Levantou-se um gato (o maior) grave e sisudo que dirigindo-se aos outros disse: - Meus irmãos: rezai, porque se rezardes muito por certo choverão ratos.
O cão riu-se com os seus botões e seguiu o seu caminho dizendo para si: “Gatos cegos e insensatos. Por acaso não está escrito e é um dado adquirido que o que chove quando rezamos não são ratos mas ossos?»

O génio descobre-se através da simplicidade com que revela as grandes verdades.... Adoro mesmo este gajo...

sexta-feira, setembro 24, 2004

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Tinha-lhe dito que gostava dela.
Ela respondeu-me que não acreditava.
Achei aquilo estupidamente ridículo, era das primeiras vezes que dizia aquilo e era mesmo verdade.
Beijei-a de novo. Queria sentir aqueles lábios grossos nos meus. Adorava aquele perfume naquela pele. Fui levá-la à discoteca onde estavam todos os seus amigos à espera e fui para casa.
No dia seguinte estava em casa revoltado, e continuava sem perceber aquilo dela não acreditar.
Pensei: “Se é altura é agora”. Sai desenfreadamente de casa atrás dela. Corri todos os locais que ela costumava frequentar. Entrava na esperança de a encontrar ainda sem saber o que lhe ia dizer, apostaria na verdade de novo. Obviamente não fui a casa dela, seria demasiado ridículo, talvez por isso acabei a noite sem a encontrar. Desiludido mas ao mesmo tempo aliviado. Daquela vez tinha tentado.
Voltei a vê-la de novo, muitas e muitas vezes. Continuava e continuei a gostar dela, mas o momento tinha passado.
Beijei-a mais algumas vezes, era impossível resistir àquela boca, mas nunca mais fui pela noite no seu encalço.


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Capítulo II


Fui para os bosques para viver deliberadamente
Queria viver profundamente
E sugar todo o tutano da vida
Aniquilar tudo o que não era vida
E não, quando eu morrer, descobrir que não vivi.







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Ops, it happened again

Andava eu, como é habitual, a chafurdar na lama pegajosa e mal cheirosa que sempre nos rodeia quando, quase sem dar por isso, comecei a levitar. Quando por ela pensei: "Ou não, outra vez…". O que viria a seguir já eu sabia.
Comecei a levitar levemente, até que o movimento ascendente se tornou notório e mais acelerado. Tentei disfarçar o máximo que pude, sou sempre muito discreto quando levito.
E pronto lá fui eu pelo ar cima. Quando finalmente parei lá estavam os outros todos, esbracejavam numa tentativa de imitar os pássaros, mas sem a mais ligeira parecença. Parecem sempre muito contentes, parece que foi a melhor coisa que lhes aconteceu.
Agora sabia que iria ficar por ali algum tempo a pairar até me precipitar e aterrar pela lama adentro de novo. Assim, enquanto estou cá em cima aproveito para ver os outros lá em baixo, para lhes estudar os movimentos, para ver se percebo onde é que a lama é menos pegajosa e mal cheirosa….

quinta-feira, setembro 23, 2004

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No final de contas, ser Humano (ser na concepção daquilo que distingue o humano dos resto dos seres) é possuir a liberdade de fazer escolhas. O ser Humano é o único capaz de fazer verdadeiras escolhas morais. É isto que nos distingue verdadeiramente dos animais e do resto das coisas.
Uma pedra rolará sempre montanha abaixo movida pela força da gravidade. Um animal mover-se-á pelo seu instinto de sobrevivência. O Homem será o único ser que subirá a montanha com o único objectivo de aprecia a paisagem. No entanto isto só será possível na medida que os seus instintos básicos estarão adormecidos. Uma pessoa esfomeada dificilmente terá vontade de subir uma montanha só pela vista. Só uma pessoa estando confortável (alimentada e vestida) poderá ter disposição para sentimentos estéticos. No entanto, um cão só se diverte a correr atrás de um pau se tiver a barriga cheia.
Isto leva-me a pensar que para uma sociedade poder evoluir em termos civilizacionais, as pessoas que a constituem terão de se sentir confortáveis. Por exemplo, na antiga Grécia quem praticava a Filosofia eram os cidadãos, aqueles que não tinham preocupações básicas (alimento e abrigo). Dificilmente um escravo tem aspirações filosóficas enquanto se preocupar a próxima refeição.
No entanto, uma sociedade composta por indivíduos que se sentem “confortáveis”, torna-se numa sociedade pensante mais exigente, o que acredito que não seja confortável para a classe dirigente. Por isso mesmo torna-se difícil acreditar em ideais políticos que posteriormente não sejam contaminados com esta preocupação.
(...)

quarta-feira, setembro 22, 2004

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Da Natureza Humana

«Todo o homem procura que o seu semelhante o valorize tanto quanto ele se valoriza a si próprio; e, perante sinais de desprezo ou subvalorização, procura, naturalmente, tanto quanto se atrever[...] forçar uma maior valorização aos que o desprezam, infligindo-lhes mal, e aos restantes pelo exemplo.»
Thomas Hobbes
Leviathan

Esta é a verdadeira natureza humana.
Mais tarde, Hegel, chamou-lhe luta pelo prestígio (reconhecimento), e justificava assim a razão que levava um homem a morrer por uma causa (uma garça pode morrer a defender as suas crias, mas nunca pela igualdade de direitos entre as garças e as cegonhas...).
No entanto, quando penso que aquilo que nos distingue do resto dos animais é uma vontade se ser bem vistos pelos nossos pares, nem que para isso tenhamos de lhes fazer mal de alguma forma, tenho de repensar o meu conceito de civilização...

terça-feira, setembro 21, 2004

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Sinceramente, quero que os meus amigos sejam obscenos.
Não moderadamente obscenos, mas que das suas bocas só saiam obscenidades, que vivam num mundo obsceno.
Para se ser plenamente verdadeiro tem de se ser obsceno.
Obsceno é dizer e fazer aquilo que verdadeiramente sentimos e queremos. Quando alguém nos está a dizer o que verdadeiramente acha de nós, o que nós ouvimos são obscenidades a saírem da sua boca.
Quando somos verdadeiros somos sempre obscenos.
Sinceramente gosto de ver obscenidades, revelam-me que ainda existem pessoas verdadeiras e que não têm medo de serem aquilo que são, e aí, renovo a esperança. Quero que os meus amigos sejam obscenos, quero que me indiquem o caminho da verdade...

quinta-feira, setembro 16, 2004

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Eu sei que isto vai um bocado atrasado, mas no último Domingo deu no canal 2 o concerto que os Portishead deram em Nova York.

Sublime...



quarta-feira, setembro 15, 2004

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professor x
I am Professor X!

You are a very effective teacher, and you are very
committed to those who learn from you. You put
your all into everything you do, to some extent
because you fear failure more than anything
else. You are always seeking self-improvement,
even in areas where there is nothing you can do
to improve.


Which X-Men character are you most like?
brought to you by Quizilla

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A historia das duas rãs

Existem certas horas em que a paciência - por mais difícil que seja - é a única maneira de suportar determinados problemas. A famosa história a seguir ilustra bem a virtude de saber esperar:Duas rãs caíram dentro de uma jarra de leite. Uma era grande e forte, mas impaciente - e confiando na sua forma física, lutou a noite inteira, debatendo-se para escapar.A outra rã era pequena e frágil. Como sabia que não teria energia para lutar contra seu destino, resolveu entregar-se. Com suas patas, fez apenas os movimentos necessários para manter-se na superfície, sabendo que cedo ou tarde iria morrer."Quando não se pode fazer nada, nada se deve fazer"pensava ela.E assim as duas passaram a noite - uma na tentativa desesperada de salvar-se, a outra aceitando com tranquilidade à idéia da morte, exausta com o esforço, a rã maior não aguentou e morreu afogada. A outra rã conseguiu boiar a noite inteira - e quando, na manhã seguinte, resolveu entregar-se, reparou que os movimentos de sua companheira haviam transformado o leite em manteiga.Tudo o que teve de fazer foi pular para fora da jarra.



quinta-feira, setembro 09, 2004

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Ideia da insónia...

Estava eu numa dessas minhas noites de insónias quando, na minha humilde opinião, tive uma ideia que acho que melhoraria a justiça social em todo o mundo.
Tudo isto tem ainda a ver com as eleições nos EUA. Ainda perturbado com a notícia que o W. Bush já tinha passado nas sondagens o seu rival Kerry (coisa que ainda me custa a crer...) comecei a pensar que o presidente da nação mais forte do mundo em todos os termos: económico, militar, etc., era simplesmente um idiota chapado, cuja política anti-terrorista o que faz é aumentar ainda mais o terrorismo por uma atitude olho por olho, dente por dente. Todos sabem que por mais que os EUA ataquem bases terroristas o único efeito que vai conseguir é aumentar ainda mais o desespero das pessoas e por isso, não é de estranhar, que essas mesmas pessoas não se importem de explodir por uma causa em que elas acreditam, e ainda mais quando são otivadas por uma convicção religiosa.
Bom, mas vamos ao que realmente interessa: a ideia que eu tive. Enquanto pensava nisto, que não passam quase de verdades de La Palisse, comecei a dar-me conta a eleição dos EUA iria influenciar a vida de quase todas as pessoas no mundo. Ora se a eleição de uma pessoa vai influenciar a minha vida eu também quero participar nessa eleição. Se essa eleição vai mudar de alguma forma a minha vida eu também quero ter uma palavra a dizer. Daqui a nova ideia para uma maior democratização a nível global.
O universo de eleitores numa determinada eleição deveria ser estendido a todos aqueles que forem afectados por essa eleição. Por exemplo, no caso dos EUA acho que é óbvio. Deveria ser uma eleição quase ao nível planetário. Até acho que os pinguins deveriam votar. Por outro lado, no caso de um país como a Estónia se calhar não iria ser preciso ir mais longe que alguns países vizinhos participarem. Aqui o único problema seria determinar a esfera de influência de uma determinada eleição, mas é para isso que os tecnocratas existem, para fazerem essas medições impossíveis, certo?




segunda-feira, setembro 06, 2004

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Fui ver o filme “Fahrenheit 9/11”

É um documentário ao género que o Michael Moore nos habituou com o seu último filme: “Bowling for Columbine”. Irónico e cheio de cinismo. Além dos mais, os factos que lá se apresentam, por mais escabrosos que sejam, já não me conseguem surpreender, acho que do Bush e daquela política já nada me surpreende.
O que me surpreende mesmo muito é como é que aquelas pessoas continuam a votar naquele homem. Isso sim dá-me dá a volta à cabeça.

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quinta-feira, setembro 02, 2004

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O sonho azul da banana...

Hoje vou fazer disto uma espécie de fotoblog. Como neste país, vivemos diariamente cenas surreais, vou aqui apresentar uma série de fotos que intitulei o sonho azul da banana....