Afinal... Portugal é vice-campeão de futebol da Europa.
Apesar do resultado da final entre as selecções de Portugal e Grécia, mantém-se no espírito do Português um sintoma de satisfação e alegria. O sentido do dever cumprido e até de alguma superioridade, coisa que há muito que não abundava por Lusitanas Terras. No entanto estas alegrias servem realmente de pouco, pois que me calem se me engano, mas será que a vitória da selecção Portuguesa na referida final me trará qualquer benefício no desenvolvimento do meu trabalho? Fará crescer o pão na minha mesa? Não, nem tão pouco mais ou menos. No máximo far-me-á encarar as dificuldades mais afoitamente.
Como é óbvio e típico do nosso povo, o refugio nas pequenas vitórias e o consolo no mal alheio, faz muitas vezes que nos passem despercebidas ou que façamos mesmo olhos de mercador (quem diz olhos diz orelhas...) as verdadeiros problemas, de enfrentar os grandes desafios e enfim, que nos sintamos confortáveis em lidar com a nossa vidita, na maior parte das vezes é uma verdadeira vidita pois não passa disso mesmo, vidas inteiras sem qualquer significado, sem qualquer valor acrescentado.
Um desses casos foi acabado de ser descrito num desses jornais da hora de jantar. Um homem, de tantos analfabetos de uma dessas aldeias do interior, matou a mulher a sangue frio com dois tiros em frente ao filho mais novo com o argumento de que ela o andava a trair. O tribunal de primeira instância condenou o homem por maus tratos e homicídio qualificado a uma pena de 20 anos. O homem, que apesar de analfabeto, foi recorrendo até que o processo chegou ao Supremo. Nesta sagrada instância do direito Português foi atenuada a pena para 17 anos, com a passagem de homicídio qualificado para simples, com os seguintes argumentos atenuantes:
1) O homem era analfabeto
2) A sua esposa recusava ter relações sexuais há um mês e meio.
Servirá esta jangada, que por ser feita de pedra não tem outro caminho que não ser afundar-se cada vez mais, de esgoto ao intestino intelectual do resto do mundo?
Há muito que me questiono que uma pessoa mal formada poderá ter uma noção moral da sociedade que a rodeia minimamente comparada com outra pessoa com o privilégio de poder investir o seu tempo em questionar, informar-se e debater a noção básica da moral: O que é o bem e o mal. No entanto, o facto que a noção de matar tenderá para o mal será das definições morais mais básicas. Será que um analfabeto não o saberá e por isso um homicídio provocado por este será mais desculpável que aquele cometido por uma pessoa formada no conhecimento?
O outro argumento deixa-me ainda mais estarrecido. Poderá ser a recusa de manter relações sexuais, mesmo no ambiente do matrimónio, ser atenuante para um homicídio?
Um desses homens formados na Lei e cheio de sabedoria veio à televisão argumentar que, para aqueles que defendem a instituição do matrimónio as relações sexuais, são um dever que deverá ser assegurado pelos cônjuges.
A alarvidade é tal que fico sem fôlego. No entanto andamos todos contentes. Afinal... Portugal é vice-campeão de futebol da Europa.
Retomarei ainda este tema quando me conseguir recompor minimamente.