pensamentos correntes, pensamentos pendentes

segunda-feira, junho 28, 2004

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Existe um planeta muito distante daqui. É um planeta especial pois é composto por um só oceano. Neste oceano vivem essencialmente dois tipos de criaturas. Aquelas que vivem à tona da água e aquelas que vivem nas profundezas do oceano.
É muito engraçado reparar nas diferenças que marcam estes dois tipos de ser.
A superfície é inundada de luz. As criaturas que aqui vivem possuem olhos e vêem-se mutuamente. Talvez por se verem estes seres são muito mais coloridos. Mostram-se muito mais. São exuberantes, exibem-se constantemente. Pelo o contrário os organismos das profundidades não vêem, mas em contrapartida sentem muito mais. Comunicam de uma forma muito mais intensa que os organismos que habitam a superfície. Este mentem constantemente. Produzem cor para disfarçar os cinzentos que os dominam. Exibem-se para se fazer notar, gostam de se fazer notar.
Os habitantes das profundezas são discretos, a maior parte do tempo estão sozinhos. Quando se encontram a linguagem é medida, gostam de saber como é o outro, gostam de aprender com o outro, o outro é importante.
As criaturas da superfície abominam os seus parentes que moram lá em baixo. Mas algumas vezes acontecem coisas interessantes. Por vezes uma das criaturas da superfície aventuram-se e mergulham até lá baixo. Nas maior parte das vezes voltam depressa para cima completamente atemorizadas. De quando em vez há uma que resiste ao medo e fica lá em baixo. Confronta-se consigo própria. Abre-se aos outros e descobre que havia muito mais em si que aquilo que pensava.
As criaturas lá de baixo são assim. São feias e monstruosas, mas sabem do que são feitas.

quinta-feira, junho 24, 2004

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Às vezes sinto-me tão vazio que temo deixar de existir a qualquer momento...

quarta-feira, junho 23, 2004

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Frase do dia...

"Todos os pássaros gostam de sementes, mas só os pardais pagam por isso..."

sexta-feira, junho 18, 2004

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Deus e a Filosofia III
O eterno confronto entre a ciência e a teologia


Meu bom diária, tu sabias. Tu sabias que teria de voltar a este tema. Davas-me como esquecido. Mas será que não me conheces? Teria de voltas e aqui estou. Cá vem a terceira parte de Deus e a Filosofia. Nesta terceira vaga, tal como ficou prometido, o tema é a ciência face à teologia.
A ciência desde que se despoletou de forma consciente e séria tornou-se desde logo uma afronta à teologia e a religião. No entanto este não foi (e não é) um acto propositado. O objectivo da ciência não é de todo afrontar a religião, longe disso. O que acontece que a teologia e a ciência tratam temas em comum apresentando diferentes posições explicativas para os mesmos factos e daí o confronto inevitável. Mas é facto de nota que este confronto não nasce por parte de ciência, mas sim por parte da religião. Parece que esta tem de se defender perante as posições científicas, assumidas obviamente, pelos cientistas. Acontece que, enquanto os cientistas se encontram munidos da razão (que é a única forma de se fazer ciência) os teólogos armam-se da fé. É a mesma coisa que cortar queijo com uma faca imaginária. Não se consegue cortar o queijo, por mais que acreditemos que a faca exista. È um confronto de todo desnecessário e sem qualquer fim à vista, mas a vontade de confronto é mais forte. A vontade que o Homem tem para tentar impor o seu ponto de vista sobe mais alto e assim esta torna-se uma discussão intemporal sem fim à vista.
Uma vez mais vou-me socorrer de uma transcrição do livro “Deus e a Filosofia” para tentar mostrar como a inutilidade desta discussão é verdadeira.
Início da transcrição:
“Ninguém nega que os organismos vivos parecem ter sido designados ou destinados a cumprir várias funções relacionadas com a vida. Todos concordam que esta aparência pode ser apenas uma ilusão. Estaríamos dispostos a tomá-la como ilusão se a ciência pudesse explicar o aparecimento da vida através das suas explicações habituais de tipo mecânico, em que nada está envolvido para além das relações dos fenómenos observáveis de acordo com as propriedades geométricas do espaço e as leis físicas do movimento. Pelo contrário, o que é mais notável é que muitos cientistas defendem obstinadamente o carácter ilusório desta aparência, embora reconheçam abertamente a sua incapacidade de imaginar qualquer explicação científica para a constituição orgânica de seres vivos. Logo que a física moderna deparou com os problemas estruturais colocados pela física molecular, viu-se confrontada com estas dificuldades. Contudo, os cientistas preferiram introduzir na física as noções não mecânicas de descontinuidade e indeterminação em vez de recorrerem a qualquer coisa do género como o desígnio. Numa escala muito maior, vimos Julian Huxley explicar ousadamente a existência de corpos organizados pelas mesma propriedades da matéria que, de acordo com o próprio, tomam infinitamente improvável que esses corpos possam existir. Porque é que esses seres eminentemente racionais, os cientistas, preferem deliberadamente as noções simples de desígnio ou intencionalidade na natureza, as noções arbitrárias de força cega, sorte, emergência, variação súbita e outras semelhantes? Simplesmente porque preferem uma completa ausência de inteligibilidade em vez da presença de uma inteligibilidade não científica.” Fim de citação
Gostaria só de dizer que o livro encontra-se cravejado de outras “pérolas” parecidas a estas que vos apresentei em cima. Se repararam o que o autor (Étienne Gilson) fez foi negar a inteligência ao Homem. Negou-lhe a capacidade que este têm para tentar resolver o desafia que é explicar racionalmente o funcionamento da natureza. Ele, ao que parece, defende que os conformemos com uma outra inteligência e que cruzemos os braços, deixando as coisas acontecerem tal como essa outra inteligibilidade bem entender. É engraçado o autor defender que se a ciência não consegue explicar tudo para que se deve então acreditar na ciência. O autor parece defender que é melhor acreditar numa qualquer história da carochinha, mas que explique um qualquer fenómeno, que o tentar explicar de uma forma racional (bem sei que é mais difícil, mas não deve ser por isso que não se o deve fazer).
Sinceramente, acho que o grande embaraço da teologia face à ciência é saber que esta não precisa de deus para prosseguir com as suas explicações. Por este motivo os teólogos acusam a ciência de ser anti-religiosa. Acontece no entanto, que para a ciência a noção de deus é completamente indiferente. A ciência segue o seu caminho de forma independente e livre de forma racional, livre de qualquer mito de fé associado à crença religiosa.
Basicamente tudo se resume ao facto de a ciência ser somente dependente da racionalidade enquanto que a teologia pretende agregar todos pelo denominador comum da fé (que tão atractiva é para o Homem em busca de respostas, mas não passa de mais um facilitismo contaminante da nossa existência...)

quinta-feira, junho 17, 2004

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Cá do meu arquivo pessoal

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Foste um bom robot hoje?



frase de uma dessas paredes da cidade...

quarta-feira, junho 16, 2004

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Adoro ver os pássaros a voar.
Lembram-nos de olhar para cima.
Lembram-nos que não podemos deixar de sonhar.


quarta-feira, junho 09, 2004

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CÂNTICO NEGRO
José Régio

"Vem por aqui" - dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?


Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.


Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...


Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.


Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!


sexta-feira, junho 04, 2004

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A minha primeira parábola



Hoje vou tentar iniciar-me no mundo das parábolas. Ontem quando conversava com um grande amigo (e não era Jesus, esse usava parábolas porque não era filósofo e não tinha outra maneira de dizer as coisas. Era só um pobre homem que se convenceu que era filho de deus e por isso teve de suportar um grande fardo. A santidade assenta-lhe que nem uma luva) vi que a parábola tinha um enorme potencial. Por isso, hoje vou contar a parábola do azeite e da água.

A grande parábola do azeite e da água
Todos sabem que o azeite e a água não se mistura. Mas nem sempre foi assim. Houve um dia que o azeite se fartou de estar rodeado por toda aquela água e de não poder interagir com ela. Pensou que poderia aprender tanto se pudesse conversar com toda a água que conseguisse. Ao mesmo tempo que tinha estes pensamentos, a água que rodeava aquela gota de azeite, dizia-lhe: “Amigo azeite, junta-te a nós, não fiques para aí fechado em ti mesmo, não tenhas medo...”. O azeite resistiu durante muito tempo. Mas ninguém consegue resistir ao tempo e um dia decidiu entregar-se. Dissolveu-se na água.
Parecia que estava no paraíso. Tanta coisa lhe faltava aprender e toda aquela água que parecia sempre diferente. Todos os dias aprendia uma coisa nova. A água era uma criatura espantosa. Apoiava-o quando estava em baixo. Falava-lhe da grande árvores que lhe tinha dado o ser. Isto confortava o azeite e o azeite sentia-se bem.

Mas houve um dia, o azeite não sabe bem precisar quando, em que as coisas começaram a mudar... A água não dava descanso ao azeite, não o largava, maçava-o. Mas o azeite pensava, não posso virar as costas, depois desta água me ter mostrado todo este mundo novo, não posso desiludi-la, e aguentava aquela pressão.
Mas uma vez mais o tempo não perdoa. O tempo faz das nossas forças fraquezas, tão facilmente que nem damos por isso. Faz de uma pequena subida a maior das montanhas, Faz da comichão a mais dolorosa das dores. Até que chega o dia que só sentimos a dor e nada mais. O azeite estava assim sentia-se mal, já se sentia mais água que azeite e ele sabia que não poderia ser assim. Ele era azeite não podia negar o seu ser para agradar à água. Um dia fartou-se. Fez o chamamento que só o azeite sabe fazer e todo o azeite disperso em toda a água voltou-se a reunir para formar a gota original. Agora o azeite sentia-se bem, voltou a encontrar-se. Sabia quem era e esse era o seu maior farol. Aprendeu a lição, não se pode deixar de ser aquilo que é para se dar bem com o resto do mundo. Não é um lamento, o mundo foi feito à imagem do azeite tal como o azeite não foi feito à imagem do mundo
A água ao ver o azeite a voltar à sua essência original irou-se. Revoltou-se, tentou por todas as correntezas dissolver o azeite. Queria-o de volta, deu-lhe tanto que queria tudo de volta. Mas o azeite não se deixou vencer. A água cansou-se e parou. Virou as costas ao azeite. O azeite agradeceu e também lhe voltou as costas. Agora mais que nunca o azeite poder-se-ia misturar com a água. Até hoje....