Deus e a Filosofia II
Todos nós sabemos, especialmente os crentes, que deus é puramente uma questão de fé. E fé por definição é algo irracional, não se explica, sente-se e nada mais. No entanto, em paralelo com uma impulsão para arranjar um deus irracional que tudo explique, o Homem fica frustrado quando não consegue perceber as coisas que o rodeiam e deste modo tenta explicar o irracional pelo racional. Dentro destes exercício podemos encontrar as várias tentativas de explicação de forma racional a existência/necessidade da existência de deus.
É engraçado verificar que a tradução do nome original de deus, Jeová, signifique “aquele que é”. Ou seja deus é/existe por definição. É esta auto-existência que depois poderá explicar que tudo o resto exista. Esta é a forma mais racional que se consegue ter para a explicação da existência de deus. Se alguma coisa existe, deve a sua existência a deus que lhe fornece a sua existência. Como é claro, isto soa tudo a um exercício intelectual profícuo é certo, mas vazio de conteúdo. Isto seria o mesmo que eu criar uma nova entidade que se chamaria “aquele que anda” e atribuir a razão de tudo o que se movimenta à existência “daquele que anda”. No entanto, é nesta nova definição de deus, que os judeus e posteriormente os cristãos, têm a sua força conversora. É uma revolução religiosa aquela que Moisés nos trouxe. O conceito de deus passa a estar estritamente relacionada com a existência das coisas de uma maneira nunca antes vista, ou seja, directamente na sua essência.
Após este prólogo, gostaria de continuar com algumas passagens do tal livro que li “Deus e a Filosofia”.
A passagem que vou transcrever demonstra de uma forma bastante evidente a necessidade da criação de deus para que o homem se sinta ele próprio o centro do universo. Esta passagem descreve a razão, segundo o teólogo Malebranche, para que deus tenha escolhido este planeta, entre tantos em todo o universo, para criar o homem que o pudesse adorar. Passo então a descrever:
“Como poderemos então explicar o facto de, entre o número infinito de possíveis sistemas de relações no espaço, Deus ter escolhido precisamente aquele em que vivíamos para o criar? A resposta de Malebranche a esta pergunta é que, para além das relações de quantidade, existem relações de perfeição, Dois e dois são quatro é uma relação de quantidade; o homem é superior aos animais é uma relação de perfeição. Ora, tal como as relações quantitativas são puramente especulativas em género, as relações de perfeição são práticas por definição. O que nos parece melhor é aquilo que nos parece mais cativante. O mesmo se passa com Deus. Tomadas no seu conjunto, todas as possíveis relações de perfeição entre todos os seres possíveis formam um sistema infinito a que chamamos Ordem. Ora, «Deus ama intransigentemente esta Ordem imutável, que consiste e pode consistir apenas nas relações de perfeição que estão entre os seus atributos, bem como entre as ideias incluídas na sua própria substância». Portanto, Deus não podia amar nem desejar qualquer coisa que contrariasse esta Ordem eterna e absoluta sem amar e desejar contra a sua própria perfeição, o que é impossível. Foi por isso que Deus criou este mundo único tal como ele é. Não é, absolutamente falando, o mundo mais perfeito possível, mas é pelo menos o mundo mais perfeito que Deus poderia criar, dado que teria de ser um mundo regido por leis universais, uniformes e inteligíveis.” Fim de citação
Este texto está impregnado de paradoxos, absurdos e contradições, mas é uma tentativa, fraca no meu entender. Ale do mais atenta contra deus, é herege. Diz que este é o melhor mundo que deus conseguiu criar, ou seja, poder-se-ia fazer melhor mas deus não o fez. Porquê? Se deus é omnipotente....
Depois a questão da Ordem. De modo a que o homem seja considerado superior ao resto dos animais, o que faz? Cria deus, que completa a essa ordem de superioridade.
Para mim a prova mais que evidente que deus não existe é o mundo existir. O mundo não é perfeito porque a perfeição, tal como deus, não existe. A perfeição é sempre relativa, não existe uma perfeição absoluta, logo a definição básica (já referida por Leibniz) de deus, a sua perfeição, cai por terra.
Para acabar só mais uma coisa. Como pode algo não-perfeito ter origem em algo perfeito. É um absurdo logo falso. Logo à partida concluir-se que deus não criou o homem nem nada mais e por extensão, deus não existe.
É claro que isto continua...
Da próxima vez vou falar do grande inimigo da racionalidade teológica, a ciência
Todos nós sabemos, especialmente os crentes, que deus é puramente uma questão de fé. E fé por definição é algo irracional, não se explica, sente-se e nada mais. No entanto, em paralelo com uma impulsão para arranjar um deus irracional que tudo explique, o Homem fica frustrado quando não consegue perceber as coisas que o rodeiam e deste modo tenta explicar o irracional pelo racional. Dentro destes exercício podemos encontrar as várias tentativas de explicação de forma racional a existência/necessidade da existência de deus.
É engraçado verificar que a tradução do nome original de deus, Jeová, signifique “aquele que é”. Ou seja deus é/existe por definição. É esta auto-existência que depois poderá explicar que tudo o resto exista. Esta é a forma mais racional que se consegue ter para a explicação da existência de deus. Se alguma coisa existe, deve a sua existência a deus que lhe fornece a sua existência. Como é claro, isto soa tudo a um exercício intelectual profícuo é certo, mas vazio de conteúdo. Isto seria o mesmo que eu criar uma nova entidade que se chamaria “aquele que anda” e atribuir a razão de tudo o que se movimenta à existência “daquele que anda”. No entanto, é nesta nova definição de deus, que os judeus e posteriormente os cristãos, têm a sua força conversora. É uma revolução religiosa aquela que Moisés nos trouxe. O conceito de deus passa a estar estritamente relacionada com a existência das coisas de uma maneira nunca antes vista, ou seja, directamente na sua essência.
Após este prólogo, gostaria de continuar com algumas passagens do tal livro que li “Deus e a Filosofia”.
A passagem que vou transcrever demonstra de uma forma bastante evidente a necessidade da criação de deus para que o homem se sinta ele próprio o centro do universo. Esta passagem descreve a razão, segundo o teólogo Malebranche, para que deus tenha escolhido este planeta, entre tantos em todo o universo, para criar o homem que o pudesse adorar. Passo então a descrever:
“Como poderemos então explicar o facto de, entre o número infinito de possíveis sistemas de relações no espaço, Deus ter escolhido precisamente aquele em que vivíamos para o criar? A resposta de Malebranche a esta pergunta é que, para além das relações de quantidade, existem relações de perfeição, Dois e dois são quatro é uma relação de quantidade; o homem é superior aos animais é uma relação de perfeição. Ora, tal como as relações quantitativas são puramente especulativas em género, as relações de perfeição são práticas por definição. O que nos parece melhor é aquilo que nos parece mais cativante. O mesmo se passa com Deus. Tomadas no seu conjunto, todas as possíveis relações de perfeição entre todos os seres possíveis formam um sistema infinito a que chamamos Ordem. Ora, «Deus ama intransigentemente esta Ordem imutável, que consiste e pode consistir apenas nas relações de perfeição que estão entre os seus atributos, bem como entre as ideias incluídas na sua própria substância». Portanto, Deus não podia amar nem desejar qualquer coisa que contrariasse esta Ordem eterna e absoluta sem amar e desejar contra a sua própria perfeição, o que é impossível. Foi por isso que Deus criou este mundo único tal como ele é. Não é, absolutamente falando, o mundo mais perfeito possível, mas é pelo menos o mundo mais perfeito que Deus poderia criar, dado que teria de ser um mundo regido por leis universais, uniformes e inteligíveis.” Fim de citação
Este texto está impregnado de paradoxos, absurdos e contradições, mas é uma tentativa, fraca no meu entender. Ale do mais atenta contra deus, é herege. Diz que este é o melhor mundo que deus conseguiu criar, ou seja, poder-se-ia fazer melhor mas deus não o fez. Porquê? Se deus é omnipotente....
Depois a questão da Ordem. De modo a que o homem seja considerado superior ao resto dos animais, o que faz? Cria deus, que completa a essa ordem de superioridade.
Para mim a prova mais que evidente que deus não existe é o mundo existir. O mundo não é perfeito porque a perfeição, tal como deus, não existe. A perfeição é sempre relativa, não existe uma perfeição absoluta, logo a definição básica (já referida por Leibniz) de deus, a sua perfeição, cai por terra.
Para acabar só mais uma coisa. Como pode algo não-perfeito ter origem em algo perfeito. É um absurdo logo falso. Logo à partida concluir-se que deus não criou o homem nem nada mais e por extensão, deus não existe.
É claro que isto continua...
Da próxima vez vou falar do grande inimigo da racionalidade teológica, a ciência