NA CAUDA DA REALIDADE...
SEM MEDO...
Capítulo Terceiro
Tomo I
Da inexistência da metafísica no amor
ou ainda...
Preâmbulo para a explicação termodinâmica para o amor, que se avizinha
Falar de amor é muito arriscado. Tal como os temas tratados anteriormente, o amor constitui algo que é muito caro às pessoas. Não é fácil discutir o tema amor sem nos deixarmos contaminar de alguma forma pela crença de que existe algo metafísico no amor, algo que é maior que nós e que nos guia pela escuridão em que nos encontramos quase todos e quase na totalidade do tempo. Assim, para muitos, o amor surge como uma luz ao fundo de um túnel escuro e pedregoso. Este tema é tão forte que as religiões não hesitam em tirar partido deste poder. Muitas vezes podemos encontrar referências que conjugam o poder de deus com o seu poder de amar. O exemplo mais evidente foi a nova aliança trazida por Jesus (e daí o poder de uma nova religião) de que deus é aquele que ama infinitamente todos, sem excepção. Quem consegue resistir a ser amado?
Para falar de amor tinha de achar uma música apaixonada, assim escolhi “When electronic meets Tango”. O Tango sempre foi música de paixão, a batida fornecia a cadência para a escrita. Aconselho vivamente a todos...
Para falar de amor temos de olhar para a sua origem, para o que o fundamenta. O que nos faz amar? A partir de que momento estamos a amar? Qual é o caminho que nos leva ao amor? O que é amor?
À primeira vista o amor é uma ligação muito forte que nos liga a alguém de uma forma muito intensa, e é tão forte que por vezes poderá fazer uma pessoa abdicar de tudo por esse sentimento por vezes até a vida. Estamos, portanto, a falar do sentimento mais forte de todos. Aliás, acredito que para algumas pessoas este meu atrevimento de definir o amor de uma perspectiva meramente realista seria caso para uma pena pesada, ou mesmo a morte. Mas prossigamos sem medo, a realidade é intocável. Existe por si só, não precisa da consciência do Homem. No entanto, o Homem continua a insistir num homocentrismo de forma a elevar-se sobre o resto da realidade de uma forma quase desesperada. Será tão difícil abrir verdadeiramente os olhos e verificar que somos somente mais uma parte de uma existência (a consciência é que nos trama...). Mas não é este tema que está em discussão. Prossiga-se então.
A forma argumentativa que vou utilizar vai ser em muito parecida com aquela que utilizei no caso da moral: a lei do retorno (quer queiramos ou não, ele existe...). Por mais estranho que pareça, os sistemas morais construídos pelo o Homem e o facto de amar tocam-se de maneira sub-reptícia, mas o que não é de admirar, são sistemas cuja a origem é comum, o horror que o Homem tem ao vazio e a sua tendência para tudo compreender, nem que para isso tenha de se socorrer de esquemas metafísicos, que não explicando concretamente, dão uma razão (e quando temos uma razão ficamos logo todos satisfeitos, a razão dá-nos uma desculpa...)
O primeiro amor que se sente é por aqueles que nos criam, sejam eles os progenitores verdadeiros ou adoptivos. Estas constatação começa já a abrir caminho para a explicação final, amamos aqueles que são responsáveis pela nossa existência e que nos dão uma base de apoio para a sua continuidade. Chamarei a este tipo de amor, amor fraterno, que se poderá estender a todos os membros da família, irmãos, avós, tios, primos, etc. Acho que será oportuno referir neste ponto uma vantagem evolutiva para este tipo de amor, se nós tivermos uma relação estável com outros seres que transportam o mesmo ou parte do nosso material genético, a probabilidade desse material genético se propagar será maior (teoria do gene egoísta, para melhor compreensão aconselho de viva voz o livro cujo o autor é Richard Dawkins).
Em oposição ao amor fraternos, tem-se o amor não-fraterno, que é definido por aquele amor que se sente pelas pessoas com as quais não partilhamos laços de sangue. É este tipo de amor que trás mais complicações em ser explicado e compreendido. O amor surge a partir de um estado de paixão. Estar apaixonado, basicamente, é estar extremamente curioso. Quando estamos apaixonados, quer seja por uma pessoa, por um objecto ou por um tema, estamos constantemente a pensar no objecto da paixão, queremos sempre saber mais sobre esse objecto, no caso de se tratar de uma pessoa, obviamente, queremos sempre estar com ela, conhecê-la (é muito devido a isto que a noção de amor à primeira vista é puramente fictícia, apesar da lei das probabilidades a prever, mas não se trata de amor à primeira vista, trata-se somente de uma coincidência).
Então quando se começa a amar. Amar não se trata de algo unidireccional vistas as coisas de uma maneira verdadeira. Só se ama quando este sentimento é retribuído. Na realidade, quando se tratam de relações não-fraternas só se ama quando se é amado, é um estado de equilíbrio. Só se ama verdadeiramente quando existe retorno, quando dou mas também recebo. Quando ou poderá ser de forma desinteressada (quase sempre o é) e quando recebo a mesma coisa, no entanto esta troca tem de acontecer e por isso mesmo que o amor é um acto egoísta visto no bom sentido, ou seja, amamos porque nos sentimos bem, desejamos amar porque sabemos que é bom, basicamente saímos sempre a ganhar, tanto uma parte como outra, pois ambos dão e recebem constantemente.
Agora, vai ser engraçado ver este tipo de relações do ponto de vista físico-químico, mais concretamente, de uma perspectiva termodinâmica, que é a ciência que explica a razão das coisas acontecerem com base na transferência de energia. Mas isso será nos próximos posts.
Para já desejo a todos os frequentadores deste blog um 2005 cheio de sucesso (no natal não falo, não acredito no natal...)
