“Os termos vício e virtude não possuem sentido algum para mim. Não louvo nem censuro. Aceito. Sou a medida de todas as coisas. Sou o centro do Mundo.
- Mas existem outras pessoas no Mundo
-Falo apenas por mim. Só me apercebo dessas outras pessoas na medida em que elas limitam as minhas actividades.”
Adaptado de “Servidão Humana” – W. S. Maugham (um dos melhores livros que alguma vez vão ter a oportunidade de ler...)
Serve este pequeno trecho para introduzir uma noção, sobre a qual há muito que me dedico. No entanto, só há muito pouco descobri a melhor forma de a denominar. Antes chamava-lhe apenas egoísmo, o que era de imediato mal interpretado não dando sequer azo à sua explicação, nem que parcial. Depois passei a chamar-lhe ipseidade. O som novo da palavra dava-me tempo de começar a explicar a noção, cuja qual não poderia discorrer sem recorrer à palavra “egoísmo”, e partir daí o problema anteriro se colocava novamente.
Acho que quem me salvou, visto de um ponto de vista inicial, foi Hegel com a sua “luta pelo reconhecimento”, razão pela qual o Homem faz coisas que o distingue do resto dos animais e coisas (já discorri sobre isto num post anterior). Ou seja, o Homem age em função de um reconhecimento posterior pelo o Outro. Estas acções maiores são aquelas conotadas moralmente como o BEM. Ou seja fazemos o bem pelo reconhecimento do Outro, no final, para nós próprios nos sentirmos bem, quer perante a sociedade quer perante nós mesmo, satisfazendo a noção do dever cumprido.
Esta noção já eu a tinha há algum tempo, não sabendo no entanto interpretá-la segundo palavras que pudessem ser aceites. Aqui reside uma das maravilhas da filosofia, ao captar-mos o pensamento de outrem é como que fizéssemos um atalho (o que poupa tempo e trabalho, fundamentalmente...). No entanto acho que a definição “luta pelo reconhecimento” não é completamente esclarecedora deste fenómeno que move o Homem à acção. À primeira expressão - egoísmo – acrescentei-lhe reflexo; egoísmo reflexo. Mas todos os “ismos” têm uma conotação negativa e exagerada, por isso a expressão teria de ser reformulada, e após ser devidamente podada dá origem a;
ego-reflexo. É um achado de uma vida.
Esta noção explica, por exemplo, o que tentei explicar uns posts atrás; a hipocrisia como forma única de se poder viver saudavelmente em sociedade. Poderá explicar um dos maiores paradoxos, o que leva o Homem a fazer o bem (e não me venham com as balelas do costume, por favor deixemos deus fora disto, deus não é a razão da existência do homem, muito pelo contrário, mas a tempo lá iremos).Dá a explicação para o seguinte paradoxo: Se fizer uma acção conscientemente, essa poderá ser classificada em termos morais. O que já não acontece se dela não tiver consciência. Um exemplo simples: Se eu for na rua e distraidamente der um pontapé numa pedra que ao rolar for cair em cima da cabeça de m ladrão que naquele momento estava a assaltar uma velhota, não faz da minha acção uma boa acção. O mesmo não se poderá dizer se eu agarrar o ladrão, impedindo-o de prosseguir os seus intentos para com a velhota. Aí poderá dizer-se que fiz uma acção boa. Foi boa porque: 1) Tive consciência da acção; 2) Resultou em proveito do Outro; 3) Fez-me sentir bem comigo próprio derivado das razões anteriores. Mas esta última razão, quanto a mim, não é o fim, mas sim o princípio da acção classificada como o bem.
É aqui que reside a força do argumento
ego-reflexo, é ele que nos move, é ele que move o movimento social, é ele que move o Homem.